quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

NOSSO CONGRESSO TEM NOVOS PRESIDENTES


07 de fevereiro de 2013.


Philippe Guédon

 
    Tenho lido muitas críticas, com as quais concordo na essência, quanto à eleição dos Presidentes e das Mesas do Senado e da Câmara. Sob outra ótica, entretanto, penso que deveríamos achar ambas absolutamente coerentes.
   O Brasil, salvo honrosas e raras exceções, não dispõe de partidos políticos. Na medida em que definirmos um partido como um instrumento de chegada ao poder para tornar realidade o programa elaborado por seus militantes e simpatizantes, alicerçado em conceitos doutrinários distintos, inviabilizamos as siglas existentes. Nossos partidos são máquinas de poder em busca da fortuna pessoal de seus membros, familiares e patotas. A diferença a separar um entendimento do outro é enorme.
    A Revolução Industrial gerou três escolas econômicas, sociais e políticas básicas: o liberalismo, que propunha darmos a primazia à liberdade sobre a justiça social, pois os atores envolvidos iriam encontrando rumos para gerar uma sociedade melhor, sem interferência do Estado. "Laissez faire, laissez passer", lembram? O socialismo de Engels e de Marx, e de tantos pensadores mais, considerava que a liberdade deveria submeter-se à justiça social, até que se pudessem eliminar os entraves nascidos das diferenças entre classes, entre ricos e pobres, entre proprietários e obreiros. E os social-cristãos, os ouvintes de prédicas e leitores de Documentos da Igreja, construíam a sua visão (o Ensino Social Cristão) de uma sociedade marcada pelo equilíbrio entre justiça social e liberdade, tão importantes  uma quanto a outra, temperadas entretanto por um ingrediente indispensável, e próprio da mensagem Cristã: o amor fraterno. Sem amor fraterno, ninguém construirá um Reich de mil anos e durou quinze, nem um império comunista que era para sempre mas desmoronou após setenta e cinco anos...
    Novas doutrinas partidárias nasceram desde a "Rerum Novarum", decerto. Os nacionalistas, os ambientalistas, os defensores de direitos humanos sequer pensados até então, os partidários da união européia, os adeptos da implantação da cruel chária muçulmana, e tantos mais.
    Mas aqui, os partidos se especializaram em não defenderem nenhum conceito, senão a opção entre dois caminhos em função do seu proveito próprio: construir a "governabilidade" de um Governo, ou ser oposição ao mesmo. Não sobre idéias, mas sobre estratégias que incluem espaços no poder, emendas parlamentares, niomeação de parentes e amigos, caixas de pandora, mensalões deste, desse ou daquele partido. Se a cúpula de um partido entende que o esquema no poder não vingará na próxima eleição, talvez seja mais rendoso já construir a alternativa? E assim decide-se ser situação ou oposição. Que horror!
    Neste cenário lamentável, onde a ética não tem o que fazer, não se poderia esperar que uma eleição - secreta, por via das dúvidas - resultasse na escolha de figuras escolhidas dentre as mais probas, de trajetória mais notável, de maiores serviços prestados, inspirados nas doutrinas mais profundas e ricas. Riqueza, naqueles plenários, é sempre entendida como aquela que se traduz em valores disfarçáveis e gozáveis.
    Que pena!
    Pois restam dois caminhos às pessoas de bem: dizer que não tem mais jeito e ir assistir quer à novela quer ao futebol, ou indignar-se e ir à luta. Exigir que os partidos sejam agremiações sérias e corretas, com doutrina e horizonte histórico. Que os candidatos e mandatários sejam preparados para exercer o seu ofício. Que a população tenha a oportunidade de ver cumprida a Lei 10.257/01, o Estatuto das Cidades, que nos assegurou a gestão participativa. Não dependemos de ninguém, de nenhum cavaleiro branco da esperança nem de boa dama mãe dos pobres. Dependemos de nós mesmos. Se não queremos mais Calheiros nem Alves, pois façamos por merecer nomes melhores. Quem quiser colher, que plante. É o que vou fazer até o meu último dia de consciência e forças físicas mínimas.

Um comentário: