domingo, 10 de março de 2013

O CICLO


09 de março de 2013.

Philippe Guédon 

O PHS nasceu da vontade de cidadãos e cidadãs que não se contentaram em resmungar na frente de suas TVs, e aveitaram doar tempo e recursos (ó, quanto) para uma obra oferecida ao Brasil. Entre erros e acertos, o Partido evoluiu em ambiente hostil - lembram da cláusula de barreira e das acusações idiotas de nanismo, como se fosse normal algum ente nascer grande na nossa Natureza? - e alcançou porte e nome suficientes para  despertar a cobiça dos profissionais da má política.
    Tais figuras, que se podem encontrar de pronto no Google com referências nada abonadoras, precisavam dispor de aliados no seio do Partido, até então um "band of brothers" desarmado. Cá entre nós: trabalhinho fácil este, pois é sabido que desde o Homem de Cro-Magnon o trio grana, poder e vida bem gozada calam a grande maioria das consciências. Tratava-se de conquistar cumplicidades, isolar ilhotas de resistência amadora e desfrutar dessa imensa força que caracteriza as nossas sociedades, quaisquer que sejam, do eleitorado total à associação de moradores da rua lá de onde o vento faz a curva: a inércia (não fosse assim, não conheceríamos Poderes Públicos frequentemente tão chinfrins).
    Encerrados os preparativos com uma técnica despudorada cuja eficiência saúdo e desprezo, o golpe foi assenado com maestria em 22 de janeiro de 2.011. Pronto, o Cavalo de Troia fora introduzido no Partido. Começava a fase dos expurgos, sabiamente escalonados: expulsão de Nelita, afastamento de Sílvia, tentativa de me amordaçar, cabeças cortadas aqui e ali. Impossível que não fossem impetrados processos contra tão óbvias malandragens. Mas, eis mais um ponto: todo malandro sabe onde a Legislação brasileira deixou, esqueceu ou previu um espaço de terra-de-ninguém. É o caso com os Partidos. Criar uma Fundação que vai responder pelo uso de 20% dos recursos do Fundo Partidário para formação e pesquisa, é tarefa que não é dado a todos cumprir, pois os Ministérios Públicos costumam ser rá lá de severos, na grande maioria dos Estados. Já, alterar um Estatuto partidário, ou descumpri-lo, desafiam o bom senso. Ninguém controla nem fiscaliza, todos carimbam, a Corte Superior diz que aprova o que aveitou fosse registrado e a Vara Cível não ousa afrontar Plenário de sete Ministros, arguindo normas estatutárias "aprovadas". .Puro Kafka. Ou Stanislaw Ponte Preta? Assim, os processos, entre duas partes "iguais perante a Lei" (rs rs rs), onde uma paga todas as despesas de seu bolso e a outra pode recorrer a dinheiro público, e a primeira ainda por cima tem que enfrentar a arapuca legal que lhe é imposta (o que lhe cria um ambiente contrário), usam concluir-se por decisões do tipo "a inicial é inepta" após processo de fritura que leva meses e anos de sangria financeira, emocional, de toda ordem. E deixa o sentimento de ser trouxa. "Deseja recorrer" ouve-se perguntar. "Para que?" reposnde, e esta pergunta deveria ecoar nas mentes dos Patriootas preocupados com o bem da Nação.
    Tomado o controle, limpa a área, assegurado o espaço à volta povoado por boas almas que "me deixem em paz, não quero nem saber, sou candidato a vereador" pode, assim, o novo grupo de controladores passar para a etapa seguinte.De estatuto em estatuto, cinco em menos de dois anos, adota instituições que ferem a Constituição, as leis, a ética, os bons costumes, a decência. Ninguém vai ler, mesmo... E cria-se a excrescência do Conselho Gestor Nacional todo-poderoso, acima do bem e dono do mal. Cinco pessoas dominando 110.000 com mais poder do que D. João VI.
    Iria parar por aí? Não. Além de centralizar tudo, sobretudo as receitas, grana, grana, grana, e o Solidarismo Comunitário às favas, inicia-se a autofagia. Iniciamos cinco, mas o rachuncho por quatro resulta melhos que divisão por cinco. E quem abriu as portas para que o Cavalo de Troia ingressasse no PHS é devidamente expurgado, e outros mais aqui, ali e acolá. O time dos descontentes vai engrossando. O destacamento de Brancaleone vira seção, companhia, batalhão e exército. A maionése engrossa, apesar de tudo. Vai se aproximando a fase derradeira que todo investidor em Bolsa conhece. Comprei, lucrei, agora eu me desfaço das minhas "posições", a qualquer preço, de qualquer modo que ainda me renda algo ou algum, e ciao e bênção, acabou o PHS. A derrocada acontecerá sem que ainda estejamos por aqui. Já em local incerto e não sabido, como é o estranho caso de um dirigente do neo-PHS.
    Como se dará essa fase do escafeder-se? Não sei, embora tenha idéias e ouça rumores. Vejo-a como inevitável, pois o PHS já é mero bagaço, sem sumo doutrinário nem ideológico, já deu o quer era para dar. Só o Fundo Partidário é pouco para os modernos idealistas que o tomaram por abordagem pirata; não compensa os riscos e a crescente trabalheira de defender o indefensável, nem o custo de contratar cada vez mais consultores e assessores com a grana que era para ter outro destino. . O PHS deixou de crescer para inchar - não foi o primeiro, não será o último - agora, parou de inchar, já tem barões o quanto baste e estes não são ingênuos nem se dispõem a serem ordenhados sem claras contrapartidas. A hora da Solução Final se aproxima.
    Aos mentores do processo, expresso a minha revolta pelo assassinato de um Partido em troca de nada que mereça respeito. Aos inúmeros que permitiram que um verdadeiro Partido, com seus erros e fraquezas, mas uma Casa séria, sumisse do mapa em troca de seu conforto, conto da minha dor. Às Autoridades que ensejam ou permitem que o nosso sistema partidário conheça a decadência que vive hoje, o meu pedido de revisão de práticas, a começar por não carimbar como "APROVADO" o que só foi "AUTORIZADO PARA REGISTRO".
    Se estou errado em algum ponto, peço desculpas. Se estou certo em algum aspecto, imploro providências. Se alguém acha que me diverte, aos oitenta anos, colocar na cabeça o elmo rachado, vestir a velha armadura de lata e cavalgar Rocinante, pode titrar o cavalinho da chuva. Não gosto, não me convém, mas NÃO ME OMITIREI. O Brasil não sai ganhando com a falta absoluta de controle partidário e com regras de organização feitas para beneficiar grandes massas dóceis, onde quer que se encontrem. Cá entre nós, esse sistema de apoiamentos é uma VERGONHA! Como a aceitação de estatutos que ofendem a moral e a Constituição.

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